Os meninos com idade a partir de 11 anos agora são o novo alvo da prevenção contra o câncer. A recomendação vem da Academia Americana de Pediatria (AAP) que publicou no renomado periódico Pediatrics estudos clínicos que apontam que a vacina também é eficiente nos meninos – e pode proteger, indiretamente, as adolescentes, estendendo a faixa etária para receber a imunização.
Desde 2011 a vacina para homens, que previne verrugas genitais e câncer anal causadas por HPV passou a ser recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e, embora o Brasil ainda engatinhe nessa luta contra o HPV, a comunidade médica vê com bons olhos a preocupação com a população mais jovem. “A batalha contra a doença ganhou mais um aliado na prevenção de diversos cânceres, principalmente o câncer de colo de útero”, afirma o médico oncologista e diretor do Cetus-hospital dia em Betim, Dr. Charles Pádua. “Por ser uma DST não basta apenas que as mulheres se cuidem. Vacinar os homens é fundamental”, completa.
O HPV é uma doença sexualmente transmissível (DST) muito comum e normalmente silenciosa, pois não causa sintomas. Ele é responsável por 90% dos casos de câncer de útero, mas também pode causar cânceres de vulva, vagina, ânus, pênis e orofaringe. “Há alguns anos temos feito alertas aos homens para a devida atenção à doença, já que a maioria não tem o hábito de se consultar periodicamente com um urologista e muitos descobrem a doença após a parceira descobrir que possui o vírus”, alerta Pádua.
O HPV atinge em geral a população jovem de 14 a 29 anos e possui mais de 40 subtipos, sendo que alguns podem causar câncer de útero e verrugas genitais. Estima-se que de 50% a 80% dos homens e mulheres sexualmente ativos contrairão HPV em algum momento de suas vidas e a recomendação da vacina para a faixa etária infantil levanta a questão da doença para que se discuta com mais freqüência esse mal, já que os homens, além de poderem contrair alguns tipos de câncer, ainda são disseminadores do HPV nas mulheres.
Um dos entraves para se vacinar a população jovem no Brasil esbarra no preço da vacina que pode chegar a custar R$ 350,00 a dose (tetravalente), sendo necessárias três aplicações durante seis meses para um efeito positivo. “A Organização Mundial da Saúde já recomenda que a vacinação contra HPV seja incluída nas campanhas de imunização, contanto que a prevenção do câncer colo do útero e de outras doenças relacionadas ao HPV representem uma prioridade em saúde pública”, conta Pádua. “Que a vacina é uma vitória científica, não temos dúvida, mas é preciso que toda a população, de qualquer classe social, tenha acesso a ela”, completa.
Embora haja o reconhecimento do Brasil em relação ao avanço trazido pelas vacinas que previnam as infecções causadas pelos principais tipos de HPV, a posição nacional em relação à adoção da vacina como política pública é cautelosa. Após várias discussões com especialistas, o Ministério da Saúde decidiu em 2007 pela não incorporação da vacina ao Sistema Único de Saúde (SUS), em função do custo/efetividade do medicamento (cerca de R$ 600 milhões anuais). No entanto, alguns municípios, tais como Belo Horizonte, avaliam a possibilidade de implantar o sistema de vacinação anti-HPV.
“Apesar da posição brasileira, há uma intensa discussão em nível mundial sobre o público alvo dessas campanhas públicas, já que o HPV está relacionado a praticamente 90% dos casos de câncer de colo de útero, e a pelo menos metade dos casos de câncer de pênis”, comenta Pádua. O especialista lembra que a nova vacina para homens e a recomendação para os meninos se imunizarem é de fundamental importância para reduzir os casos de câncer no país. “A prevenção é essencial para a prevenção de cânceres de vários tipos. O que se gasta com vacina, certamente será muito menos do que com o tratamento do câncer. A população tem que se mobilizar e exigir do poder público um posicionamento. Só assim todos terão acesso à vacina”.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) são registrados 15.000 mil novos casos de HPV no país por ano. Se detectadas a tempo, as lesões causadas podem ser eliminadas, prevenindo o desenvolvimento do câncer. “Quanto mais cedo pudermos vacinar nossos meninos e meninas, melhor para a saúde e também para os gastos públicos com a doença. A extensão da faixa etária para a vacinação não deixa de ser uma vitória”, finaliza.