O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e a Marinha do Brasil lançaram, nesta terça-feira (22), o Concurso Estação Antártica Comandante Ferraz, que selecionará o projeto arquitetônico das novas instalações da estação científica mantida pelo governo brasileiro. O evento foi realizado na sede do IAB, no Rio de Janeiro, com a presença do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), representado pelo secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, Carlos Nobre.
Inaugurada em 1982, a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) foi destruída por um incêndio em 25 de fevereiro de 2012. O fogo consumiu cerca de 70% das instalações e matou dois militares. Segundo o comandante da Marinha do Brasil, o almirante Júlio Soares de Moura Neto, o desmonte da estação antiga foi concluído há dez dias. “A nova estação poderá abrigar 200 pesquisadores e deve custar cerca de R$ 100 milhões. É claro que o custo vai depender das exigências do projeto vencedor, mas achamos que deverá ser aproximado ao da nova estação espanhola, que custou cerca de € 40 milhões”, destacou.
O concurso será aberto à participação de arquitetos brasileiros e estrangeiros associados a escritórios do país. O caráter internacional do concurso tem como objetivo promover intercâmbio de conhecimento entre profissionais de diversos países e estimular a inovação tecnológica. Além disso, para que a estação incorpore todos os requisitos técnicos e ambientais, será exigida a formação de uma equipe multidisciplinar constituída por diversos especialistas, sob a coordenação do arquiteto responsável pela elaboração do projeto.
A iniciativa conta com o apoio do MCTI e com o suporte de departamentos de diversas instituições de ensino e pesquisa, também engajadas no plano de reconstrução da estrutura.
Segundo Carlos Nobre, o ministério alocou recursos, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para a aquisição de todos os instrumentos perdidos durante o incêndio. “Possivelmente, no próximo verão, a maioria desses instrumentos já estará instalada na nossa base na Antártica”, afirmou.
Pesquisas
O secretário destacou ainda que a pasta, com a comunidade científica, o comando da Marinha e o Ministério do Meio Ambiente, está trabalhando para minimizar as perdas. “O que nós queremos tirar da Antártica é o conhecimento”, disse. “Temos mais de 30 anos de dados coletados e a pequena perda de informações que tivemos com o incêndio não irá atrapalhar o nosso objetivo. Por isso, é importante reconstruir rapidamente a base e recompor as pesquisas. Esperamos que a nova estação permita ao Brasil expandir ainda mais a sua capacidade de produzir conhecimento internacional.”
O edital e o termo de referência do Concurso Estação Antártica Comandante Ferraz serão publicados no site da seleção, com previsão de ir ao ar na segunda-feira (28). “A ideia é que a estação brasileira se torne uma referência, principalmente em relação aos aspectos de inovação tecnológica de projeto e dos sistemas como um todo”, afirmou o presidente do IAB, Sérgio Magalhães. “O desafio de apresentar uma solução sofisticada, tanto do ponto de vista tecnológico quanto do construtivo e espacial, certamente irá despertar o interesse de muitos arquitetos. É um projeto singular que tem um aspecto simbólico importante.”
Localizada na península Keller, no interior da baía do Almirantado, ilha Rei George, a EACF começou a operar há 31 anos para estudos do ambiente antártico por meio do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), do governo federal. A comunidade científica que a utiliza é formada por estudiosos de diversas áreas de conhecimento, dentre elas: oceanografia, meteorologia, biologia, geologia e química.
Segundo o almirante Marcos Silva Rodrigues, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm), a estação antártica é um legado para o país, não só pela produção científica, mas também por incentivar a formação de novas gerações de pesquisadores e pelo domínio do conhecimento de complexas operações logísticas, em ambiente inóspito.
“A estação representa uma significativa política de valorização da ciência pelo governo brasileiro. Por isso, temos a atividade científica como o principal pilar de sustentação do Brasil na Antártica. Com uma missão tão rica como esta, a seleção do projeto para a reconstrução não podia ser feita de outra maneira senão por concurso público, a forma mais democrática de avaliação”, afirmou o almirante.
Laboratório
As pesquisas realizadas na estação são voltadas para a compreensão dos fenômenos naturais do ambiente local e sua repercussão em âmbito global, principalmente no Brasil. Com características ímpares, o continente antártico influencia diretamente o equilíbrio climático de todo o planeta e é considerado um laboratório natural, onde é possível estudar e desvendar alguns dos segredos da atmosfera, dos mares e da vida na Terra.
O Brasil é membro consultivo do Tratado Antártico desde 1975. Em 12 de janeiro de 1982 foram assinados os decretos 86.829 e 86.830, que criaram o Proantar e resultaram no estabelecimento da Comissão Nacional para Assuntos Antárticos (Conantar). A responsabilidade pela elaboração do programa foi atribuída à Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm).