Pesquisa desenvolvida pela professora Silvia Caldeira, do Departamento de Enfermagem, com orientação do professor Carlos Magno Fortaleza, do Departamento de Doenças Tropicais e Diagnóstico por Imagem da Faculdade de Medicina (FM) da Unesp, Câmpus de Botucatu, concluiu que o verão é a estação do ano em que algumas das infecções hospitalares mais comuns têm maior incidência. O trabalho resultou na produção de um artigo científico que será publicado, em janeiro de 2014, na revista Infection and Hospital Epidemiology, que tem fator de impacto Qualis A1.
O trabalho, tese de doutorado de Caldeira, também conquistou o primeiro lugar durante o Congresso Brasileiro de Infecção Hospitalar, realizado em 2012. Essa constatação feita pelos pesquisadores resultará em uma ampla campanha de conscientização – que acontece hoje, dia 10 de dezembro, no Hospital das Clínicas da FM – sobre a importância da prevenir as infecções hospitalares. Entre as ações recomendadas, principalmente aos profissionais de saúde, está a higiene frequente das mãos (por lavagem com água e sabão ou utilização de álcool-gel).
Na pesquisa, foram analisados mais de 5 mil exames coletados entre 2005 e 2010 de pacientes com diagnóstico de infecção da corrente sanguínea (um tipo de infecção hospitalar geralmente associado ao uso de cateteres vasculares). Foram aplicados testes estatísticos complexos, como a modelagem de séries temporais. “Foi possível identificar que as bactérias gram-negativas (principais agentes causadores de infecção hospitalar), em especial o Acinetobacter e o Enterobacter, apresentam comportamento sazonal”, explica Fortaleza.
O Acinetobacter baumannii, tipo de bactéria mais comum no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), aumenta em 40% sua incidência no verão. Para cada 1º C a mais na temperatura média mensal, aumenta em 13% sua incidência. Sendo assim, o estudo sugere que as campanhas de prevenção, orientando sobre a importância da lavagem das mãos e isolamento de pacientes, ocorram durante o verão.”Essa é uma mudança nos procedimentos usuais dos hospitais brasileiros”, informa Fortaleza. “Os dias de campanha de lavagem de mãos e controle de infecção hospitalar costumam acontecer em maio. Nossos resultados sugerem que essas campanhas devem ser intensificadas entre novembro e março”, acrescenta.
São várias as hipóteses que podem explicar essa sazonalidade das infecções hospitalares. Entre elas, podem ser citados: o acúmulo de água em reservatórios de hospitalares, que aumentam a umidade nas enfermarias; o fato de as bactérias aumentarem a capacidade de invadir tecidos corpóreos quando expostas a temperaturas altas; ou ainda a possibilidade de os profissionais de saúde trazerem as bactérias – mais abundantes no ambiente externo – em suas mãos ou roupas quando chegam ao hospital.
A próxima etapa desse estudo será analisar dados coletados em hospitais de outras regiões do Brasil. Também participaram do trabalho a professora Lenice do Rosário de Souza; o engenheiro agrônomo Antônio Ribeiro Cunha, especialista em clima vinculado à Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu/Unesp (FCA); José Eduardo Corrente, do Departamento de Bioestatística do Instituto de Biociências (IB) da Unesp, Câmpus de Botucatu, e ainda as alunas Rayana Gonçalves Moreira e Renata Tamie Akazawa, que fazem parte do PBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq).