Por Noêmia Lopes Agência FAPESP – Em 2012, pesquisadores do Instituto Butantan, em São Paulo, e da empresa brasileira de pesquisa e desenvolvimento Recepta Biopharma geraram uma linhagem de células que produz um anticorpo monoclonal (mAb, na sigla em inglês) batizado RebmAb 200, com potencial para combater células tumorais de ovário, rim e pulmão.
O trabalho resultou em um artigo na revista PLoS One, eleito como a melhor publicação de 2013 pelo IV Prêmio Fundação Butantan – premiação destinada a estudos vinculados ao Instituto Butantan.
Desenvolvida sob a coordenação da bióloga Ana Maria Moro, a pesquisa fez parte do projetoLinhagens celulares da alta produtividade e estabilidade de anticorpos monoclonais humanizados para terapia de câncer, com financiamento do Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE-FAPESP) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
“Pela primeira vez no Brasil linhagens celulares com alta produtividade e estabilidade foram obtidas para anticorpos monoclonais recombinantes, num trabalho realizado por uma equipe jovem de cientistas, sem experiência prévia, que se dedicou ao máximo para a obtenção dos resultados apresentados que, espero, possam ser traduzidos em benefícios para pacientes com determinados tipos de câncer”, disse Moro àAgência FAPESP.
Enquanto tratamentos convencionais contra o câncer – químio e radioterapias – atingem a um só tempo células tumorais e sadias, os mAbs são capazes de reconhecer e ligar-se a moléculas específicas na superfície dos tumores, agindo apenas sobre elas. Daí esse tipo de produto biotecnológico ter altíssimo valor agregado.
Desenvolvimento do RebmAb 200
Inicialmente, a Recepta Biopharma licenciou o anticorpo do Ludwig Institute for Cancer Research (LICR), em Nova York, que já havia passado por testes em camundongos e humanos (dose única) e pelo processo de humanização (os genes responsáveis pela produção do anticorpo em questão são modificados a fim de eliminar a reação imunológica que o organismo humano teria diante de sua origem murina, por ter sido obtido em camundongos).
Já no Instituto Butantan, confirmou-se que a humanização prévia não causara alterações na ligação anticorpo-antígeno. Em seguida, a equipe introduziu os genes que sintetizam o anticorpo em uma linhagem de células humanas e gerou centenas de clones.
“Fizemos uma seleção minuciosa em busca dos melhores clones, visando alta produtividade, estabilidade e função de citotoxicidade mediada por anticorpo, essencial para o uso terapêutico do anticorpo em câncer”, disse Mariana Lopes dos Santos, então pesquisadora da Recepta Biopharma e hoje pesquisadora do Laboratório Biofármacos em Células Animais do Instituto Butantan.
O RebmAb 200 é o resultado dessa busca. Embora ainda não tenha sido usado clinicamente, há potencial para o uso em câncer de ovário em função de resultados preliminares obtidos no LICR antes da humanização.
Os pesquisadores também apontam para a possibilidade de utilização contra células tumorais de rim e de pulmão. Com a colaboração do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP), estudos de imuno-histoquímica revelaram que o RebmAb 200 estabelece ligação com células tumorais desses dois órgãos, além do ovário e também de alguns tipos de câncer de mama.
“As células que geramos aqui foram enviadas para uma empresa na Holanda que realizou a produção em larga escala em condições de manufatura para uso clínico. O que se espera é que a citotoxicidade verificada em ensaios seja efetiva quando injetada em pacientes”, afirmou Moro.
Leia mais sobre o desenvolvimento da pesquisa em reportagem da revista Pesquisa FAPESP.