Especialistas e entidades representativas dos pacientes renais alertam para o aumento cada vez maior no país do número de pessoas com doenças renais crônicas. O número não acompanha, na mesma proporção, a divulgação de campanhas de prevenção e ofertas de médicos e serviços.
A presidenta da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Carmen Tzanno, disse que o Brasil está entre os cinco países com mais pacientes renais que fazem diálise. O tratamento substitui as funções de filtragem do rim e é vital, enquanto o paciente aguarda um transplante.
“Temos cerca de 100 mil pessoas que estão incluídas em programa de diálise no Brasil. São cerca de 5,5 mil transplantes de rins feitos todos os anos. De 2000 a 2014, o número de pacientes renais subiu 134% e o de serviços disponíveis para suprir a demanda ficou em 41,98%. O número de clínicas não acompanha esse crescimento. Temos 409 municípios com clínicas de diálise e nefrologistas. O fato é que somos aproximadamente 3 mil nefrologistas que estão mais concentrados em algumas regiões, enquanto outras acabam carentes desse tipo de atendimento”, explicou.
Os principais motivos para o aumento de casos são o envelhecimento da população, a falta de alimentação saudável e a prática de exercícios. “No mundo moderno, as pessoas têm tantas atividades que acabam consumido os alimentos industrializados, que geralmente têm muitos aditivos e quantidades de sal e sódio acima do recomendado, e não encontram tempo para fazer exercícios. Outro fator diz respeito à questão financeira mas, de qualquer forma, a solução está sempre na educação e na informação, sendo necessário alertar as pessoas sobre os cuidados que devem ser tomados”, disse.
A Doença Renal Crônica (DRC) é a principal causa de transplantes de rim e afeta 10% da população mundial. Obesidade, diabetes e hipertensão arterial são as principais causas da DRC. A incidência da doença aumenta em pacientes com idade entre 65 e 74 anos. Metade da população idosa acima de 75 anos também tem a doença em algum estágio.
Para o presidente da Federação Nacional das Associações de Pacientes Renais e Transplantados do Brasil (Fenapar), Renato de Jesus Padilha, a diálise peritoneal dá ao paciente mais liberdade e melhor qualidade de vida. Transplantado há 11 anos, ele chegou a fazer hemodiálise por cerca de um ano e meio antes de ganhar um novo rim, doado pela irmã. “Com a diálise em casa, você pode administrar o tratamento, pode viajar. Como o processo é mais rápido que o da máquina, é possível fazer a substituição do fluído peritoneal em menos tempo e não prejudicar o trabalho, por exemplo”.
Padilha acredita que são necessários mais investimentos públicos no tratamento e no trabalho de prevenção, com informação e educação constante e intensa. “Além de salvar vidas, informar e educar sobre prevenção sai mais barato em todos os sentidos, evita gastos com tratamentos e transplantes”.
Mais de 80% dos tratamentos de pacientes renais são pagos pelos Sistema Único de Saúde, mas a maioria dos centros de diálise é particular. Há duas opções de tratamento: a hemodiálise e a diálise peritoneal. Tanto Carmen quanto Padilha disseram que o atendimento aos pacientes renais pelo SUS é adequado, mas que o quadro pode piorar se não houver aumento de recursos para o setor.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante, Hélio Vida Cassi, o principal problema é o baixo valor pago pelo SUS aos procedimentos de tratamento.
“Há dois anos tivemos reajuste de 5%, após muita luta e pressão, valor que não cobriu nem a defasagem da inflação. O valor por sessão de hemodiálise pago às clínicas particulares está fixado em R$ 179,03. Há muito tempo apresentamos planilhas ao Ministério da Saúde mostrando que o custo básico é de pelo menos R$ 232. Os custos das clínicas sobem muito mais do que o repasse do governo. O salário mínimo aumentou 432% nos últimos dez anos, enquanto o pagamento da diálise subiu 91% no mesmo período”, explicou.
De acordo com Cassi, algumas clínicas estão deixando de atender pacientes do SUS para diminuir os prejuízos. “O Brasil é um dos países da América Latina que menos paga pelo procedimento. As clínicas não têm como reinvestir em equipamentos mais modernos, na melhoria do serviço. Com a inflação e o dólar altos, o aumento se reflete nos custos dos insumos importados; se nada for feito, a situação vai ficar impraticável e muitas clínicas vão fechar em curto espaço de tempo”.
Até o fechamento desta matéria, o Ministério da Saúde não respondeu às perguntas relacionadas às ponderações dos entrevistados.
Flávia Villela – Repórter da Agência Brasil
Edição: Valéria Aguiar