Elton Alisson, de Buenos Aires | Agência FAPESP – O número de estudantes matriculados no ensino superior no Brasil mais que triplicou em um período de 13 anos, saltando de pouco mais de 2 milhões em 2000 para quase 9,5 milhões em 2013.
Apesar do esforço para expandir o ensino superior público no país nesse mesmo período – em que o número de vagas nas universidades públicas saltou de menos de 1 milhão para 1,9 milhão –, o setor privado acompanhou esse crescimento e continua tendo os mesmos 76% de participação no total de estudantes matriculados que possuía em 2000.
“Embora, principalmente, as universidades federais tenham expandido o número de vagas nesse período, as instituições privadas também cresceram bastante e continuam com a mesma proporção no total de alunos matriculados no ensino superior no país”, disse Elisabeth Balbachevsky, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), em uma mesa-redonda sobre os desafios da educação superior no Brasil e na Argentina durante a , realizada na capital argentina, entre os dias 7 e 10 de abril.
O mesmo avanço das instituições privadas no ensino superior no Brasil também é observado na Argentina, apontaram pesquisadores do país que participaram da mesa-redonda.
O número de estudantes matriculados em cursos superiores argentinos entre 2000 e 2012 aumentou 75,4% em instituições privadas, enquanto no setor público a taxa de crescimento no período foi de 4,8%.
Já o número de estudantes egressos de cursos superiores aumentou 127,5% no setor privado no mesmo período contra 56,2% do setor público.
“A América Latina, juntamente com o Leste Asiático, são as duas regiões do mundo onde as instituições privadas de ensino superior expandiram muito e dominaram o ensino superior”, disse Marcelo Alberto Rabossi, professor da Universidade Torcuato di Tella.
No Brasil, a primeira universidade privada foi aberta em 1933. Já na Argentina, que junto com Uruguai foram os dois países na América do Sul que mais resistiram às instituições privadas, a primeira universidade particular foi aberta 25 anos depois, em 1958.
“No caso argentino, a expansão do ensino superior foi rápida durante a década de 1960 e, logo em seguida, ficou estagnada em 20% do total de estudantes matriculados no país”, disse Rabossi.
“No caso brasileiro, já na década de 1930 o setor de ensino superior privado absorvia mais de 30% do total das matrículas. Atualmente, três de cada quatro graduandos no Brasil estudam em instituições particulares”, comparou.
Convergência dos setores
De acordo com Rabossi, na Argentina a expansão do setor privado universitário tem sido mais tolerada do que estimulada.
“Em épocas de restrição fiscal, o governo preferiu expandir o setor público e manter a hegemonia e o controle absoluto do sistema, ao custo de manter baixo os salários dos docentes e não poder controlar a qualidade de todo o sistema, do que estimular o aumento das instituições privadas”, afirmou.
No Brasil está ocorrendo uma certa convergência entre os setores privado e público do ponto de vista da oferta de cursos, apontou Balbachevsky. “O setor privado universitário parece estar saindo do confinamento de oferecer cursos que exigem menos investimentos – que não necessitam de laboratórios e de toda uma infraestrutura mais complexa – e começa a avançar para cursos como os de Engenharia e Medicina, por exemplo”, disse.
Quase a metade dos estudantes de graduação em Engenharia no país hoje está matriculada em instituições com fins lucrativos, apontou Renato Pedrosa, professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Nos últimos cinco anos, o setor privado universitário no Brasil começou a graduar mais engenheiros do que o sistema público”, afirmou.
“As diferenças entre os dois setores, contudo, continuam sendo imensas”, ponderou. No setor público, a maior parte dos professores tem contrato de trabalho em tempo integral e uma carga horária de aulas menor para se dedicar à pesquisa”, disse Balbachevsky.
Outra diferença entre os dois setores está na oferta de cursos de pós-graduação, que é maior no setor público, comparou a pesquisadora. “É na pós-graduação que o setor público universitário se destaca, particularmente por meio das universidades federais”, disse.
O número de alunos matriculados em cursos de mestrado em universidades federais no Brasil saltou de 25 mil em 2000 para quase 150 mil em 2012. Já o de doutorado aumentou de 10 mil para 30 mil no mesmo período.
Nas universidades estaduais, o número de alunos matriculados em cursos de mestrado avançou de 20 mil para 50 mil e de doutorado de 10 mil para 20 mil.
“As três universidades estaduais paulistas [USP, Unicamp e Unesp] respondem por 88% das matrículas de mestrado e doutorado entre as universidades estaduais de todo o país”, comparou Balbachevsky.
Algumas poucas universidades privadas também têm programas de mestrado e de doutorado, ainda que o principal foco sejam os cursos de graduação.
Uma das modalidades de cursos de pós-graduação em que têm maior participação, segundo Balbachevsky, é no mestrado profissional – modalidade de pós-graduação voltada para a capacitação de profissionais para atender à demanda do mercado de trabalho.
“Embora o mestrado acadêmico vá completar 20 anos de regulamentação, as universidades públicas não aceitam muito bem essa modalidade de curso de pós-graduação e eles passaram a ser oferecidos, em maior parte, pelo setor privado”, disse.
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