‘Poluir é fácil e rápido. A descontaminação demora muito tempo e é cara. A tendência é piorar. Falta investimento em estudo e monitoramento”. A afirmação é do professor de Zoologia dos Invertebrados da Unesp Câmpus do Litoral Paulista, em São Vicente, Marcelo Pinheiro. O coordenador do estudo que revelou a contaminação dos caranguejos-uçá por metais pesados, em manguezais da Baixada Santista, acredita que a situação ambiental da Região ficará pior após incidente no terminal da Ultracargo, na Alemoa, em Santos. O incêndio provocou a contaminação da água do canal do estuário e pode ser a causa da morte de milhares.
“O problema maior é a contaminação. A falta de oxigênio (que provocou a mortandade) é decorrente da mistura do produto químico misturado na água do estuário para resfriar os tanques. Não tenho conhecimento se houve tratamento ou barreira para que eles não fossem lançados. O volume é de bilhões de litros de água”, explicou o professor. “Existem inúmero fatores que promoveram a mortandade dos peixes, pois são componentes químicos de vários tipos. Primeiro morrem os animais aquáticos que utilizam a água para sobreviver. O efeito depois será visto em toda fauna e flora”, explicou o professor.
Segundo o pesquisador, os animais herbívoros — que se alimentam da vegetação — como o caranguejo-uçá, por exemplo, também sofrerão as consequências da poluição. “Os caranguejos são mais resistentes aos poluentes, mas se a vegetação absorver a contaminação eles vão comer e, futuramente, poderemos verificar mortandade e também a escassez de algumas espécies. Se formos ao manguezal e fizermos testes sanguíneos nesses animais com certeza já terá alteração”, destacou Pinheiro.
O professor da Unesp, que coordena em âmbito federal um grupo de pesquisa sobre crustáceos, alerta para o reforço das ações de descontaminação, pouco realizadas. “Falta investimento em estudo e monitoramento. A Cetesb faz o monitoramento das regiões, mas não adianta só monitorar tem que detectar o problema e o que vai se fazer para reparar. Dá para despoluir, mas é muito caro. O Ministério Público deve se preocupar com a situação e as empresas responsáveis pela poluição devem receber multas pesadas e o dinheiro investido na recuperação do meio ambiente degradado”, destacou.
O grupo comandado por Pinheiro apresentou em organizações como a ONU propostas direcionadas para vários manguezais do litoral brasileiro. “O maior problema do meio ambiente está relacionado por contaminação promovida por fatores antrópicos (que resulta da ação do homem). Temos visto que várias espécies têm entrado em extinção devido a essa situação”, explicou. Na Baixada Santista, a maior influência antrópica se deu pela instalação do polo industrial, em Cubatão, o Porto de Santos.
Entre as soluções apontadas pelo professor como solução para a identificação de anormalidades e prevenção de problemas futuros, como o surgimento de doenças e consequências ao homem, está à utilização de biomarcadores, método utilizado no estudo que detectou a contaminação dos caranguejos-uçás por metais pesados. “É possível monitorar os componentes celulares e genéticos das espécies. Com isso, é possível detectar mutações genéticas, como foi encontrado nos caraguejos”, destacou.
O estudo coordenado por Pinheiro revelou a contaminação por metais pesados — mercúrio, cádmio, chumbo e cobre — em amostras de água, sedimentos e caranguejos-uçá em áreas de manguezais dos municípios de São Vicente, Cubatão, Bertioga, Iguape e Cananeia. Apenas a região próxima à Estação Ecológica de Jureia-Itatins, em Peruíbe, está livre do problema. O projeto durou três anos (2010-2012) e avaliou seis áreas de manguezais.
Pinheiro ressaltou a importância de manter a população informada sobre a poluição. “É um problema grave. Não precisa deixar a população em pânico, mas as autoridades precisam deixar claro que o problema de contaminação existe e é prejudicial. Essa explosão demonstrou que há um problema grave de falta de segurança”. A recomendação é não consumir os pescados encontrados mortos e evitar a captura e o consumo de animais marinhos das regiões atingidas.
Unesp – Universidade Estadual Paulista
Assessoria de Comunicação