Uma doença rara e pouco conhecida, a Síndrome de Guillain-Barré (SGB) passou a ser assunto fora dos consultórios médicos depois que uma pesquisa mostrou que ela pode ser desencadeada pelo vírus Zika. A síndrome pode apresentar diferentes graus de manifestação, apresentando desde leve fraqueza muscular em alguns pacientes ao quadro raro de paralisia total dos quatro membros.
O neurologista do Hospital Sarah, em Brasília, Eduardo Uchôa, explica que a síndrome é uma reação autoimune do corpo. O organismo começa a combater um microorganismo, como vírus ou bactéria, e acaba atacando a si próprio. Não existem formas de evitar a doença e as informações sobre a origem são controversas. “Por algum motivo, nosso corpo produz, através de suas células de defesa, anticorpos contra o nosso nervo periférico”, explica o especialista.
Segundo Eduardo Uchôa, dois terços dos casos da Síndrome de Guillain-Barré são precedidos por quadros de gripe ou diarreia e todos os sintomas aparecem em até quatro semanas após os primeiros sinais.
“No quadro inicial, o paciente, geralmente, apresenta alterações de sensibilidade, tem formigamento, sintomas um pouco inespecíficos. Isso vai progredindo para um quadro de fraqueza, chamada de paralisia flácida ascendente, que costuma começar nas pernas e vai subindo. Isso tende a evoluir ao longo de até quatro semanas”, explica Uchôa.
Foi o que aconteceu em 2014 com o analista de segurança da informação, Guilherme de Sá Gattino. “Tive uma tosse persistente, fui a um médico e ele me tratou contra pneumonia. Uns dez dias depois de começar o tratamento fui dormir com dores na panturrilha. Quando acordei fui levantar e caí no chão, sem conseguir levantar”, relembrou o gaúcho, que na época tinha 28 anos e ficou pelo menos quatro meses afastado do trabalho.
Dados internacionais mostram que aproximadamente 50% dos pacientes se recuperam totalmente até seis meses depois da síndrome se manifestar. Cerca de 30% têm sequelas leves, como sensibilidade nos membros ou pequenas dificuldades motoras. Quase 20% dos pacientes têm consequências mais graves, como maiores dificuldades motoras e fraqueza nas pernas. Cerca de 5% das pessoas têm complicações mais graves, como paralisia dos músculos respiratórios, e acabam morrendo.
Citomegalovírus, Epstein-Barr, HIV e até o vírus da dengue são citados na literatura médica como alguns dos desencadeadores da Síndrome de Guillain-Barré. De acordo com Eduardo Uchôa, a doença é um pouco mais frequente em homens e em pessoas na faixa dos 40 anos, mas pode atingir também indivíduos em outras idades.
De acordo com o especialista, a imunoglobulina é o principal tratamento durante a crise, para que a doença estacione. A fisioterapia é outro tratamento para que o paciente recupere os movimentos perdidos. “Você tem o impacto inicial, a doença vai evoluir no máximo em quatro semanas e depois disso o paciente entra numa curva de melhora”, disse Uchôa.
No caso do analista Guilherme Gattino, a doença atingiu as pernas e os braços. “Dias depois, que fui internado, não conseguia segurar o celular, mas me esforçava tanto para conseguir mexer no aparelho que acabou sendo a primeira evolução”. O gaúcho relembra que não conseguia se virar na cama ou ir sozinho ao banheiro.
Agora, depois de várias sessões de fisioterapia, ele se considera totalmente independente. “Ainda não consigo correr, ou andar rápido, mas faço tudo, pego ônibus, vou para o trabalho”, conta.
Casos no Brasil
O Brasil e a Colômbia já reconheceram aumento no número de casos da síndrome depois do crescimento da circulação do vírus Zika.
No Brasil, a ocorrência de síndromes neurológicas relacionadas ao vírus Zika foi confirmada após investigações conduzidas em Pernambuco, a partir da identificação do vírus em amostras de seis pacientes com sintomas neurológicos e com histórico de manchas vermelhas no corpo, características do vírus Zika. Desse total, quatro casos foram confirmados para a doença de Guillain-Barré.
A síndrome não é de notificação obrigatória e, por isso, não há dados nacionais de registros da doença. O número de atendimentos ambulatoriais relacionados à Guillan-Barré, entretanto, cresceu 8% de 2014 para 2015. Dados internacionais apontam que até duas pessoas a cada 100 mil habitantes têm a doença por ano.
Aline Leal – Repórter da Agência Brasil
Edição: Carolina Pimentel e Lílian Beraldo
17/02/2016