Samuel Antenor | Agência FAPESP – A FAPESP e a Natura lançaram o Centro de Pesquisa Aplicada em Bem-Estar e Comportamento Humano, voltado para estudos nas áreas de neurociências, psicologia positiva, psicologia social, neuroimagem, neuropsicofisiologia, psicometria, estudos populacionais e longitudinais.
Formado por uma rede de pesquisadores das áreas de psicologia e neurociências da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), o Centro, sediado no Instituto de Psicologia da USP (IPUSP), é o primeiro na área de Humanidades criado a partir de modelo de financiamento compartilhado entre uma empresa privada e a Fundação.
Os investimentos previstos para sua implantação e condução de suas atividades chegarão a R$ 40 milhões em dez anos, dos quais R$ 20 milhões serão divididos igualmente entre Natura e FAPESP. Outros R$ 20 milhões serão dispendidos como contrapartida pelas universidades, em forma de apoio institucional e administrativo aos pesquisadores envolvidos, incluindo salários e infraestrutura.
Para José Goldemberg, presidente da FAPESP, o Centro deverá fornecer subsídios para ajudar a entender as necessidades de bem-estar da sociedade, e a obter condições mínimas para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
“O Centro se dedicará ao levantamento de dados qualitativos e quantitativos, com vistas à melhoria da qualidade de vida das sociedades modernas a partir de uma Interação da universidade com o setor produtivo”, disse.
Para ele, a integração entre áreas do conhecimento será um diferencial do Centro, onde cerca de 30 pesquisadores conectados em rede desenvolverão projetos cooperativos articulando instituições de pesquisa do Brasil e do exterior.
A proposta do Centro é realizar estudos multidisciplinares, a fim de gerar novos conhecimentos, conceitos, metodologias, tecnologias, ações de educação, desenvolvimento de indicadores e a estruturação de uma base sólida para avaliação e promoção do bem-estar da população brasileira.
Durante o evento de lançamento do Centro, na sede da FAPESP, Andrea Álvares, vice-presidente de marketing e inovação da Natura, afirmou que o modelo escolhido para sua implantação está na vanguarda da inovação aberta.
“Quanto maior a diversidade dos envolvidos, mais ricos serão os resultados, pois a iniciativa irá fortalecer o conhecimento científico para promover o bem-estar de nossos consumidores e da sociedade como um todo. Ao final, queremos oferecer o que há de mais avançado no conhecimento nesta área”, afirmou.
Novas Perspectivas
Coordenado por Emma Otta, professora titular do Departamento de Psicologia Experimental do IPUSP, e por Patrícia Tobo, gerente científica de Ciências de Bem-Estar da Natura, o Centro tem como fundamento de suas pesquisas a neurociência e a psicologia, esta como produtora de conhecimentos científicos a partir do estudo do comportamento e suas causas, numa perspectiva psicobiológica. Nesse sentido, as pesquisas estarão localizadas na esfera de duas áreas principais.
A primeira delas é a psicologia positiva – que tem seu foco no estudo e desenvolvimento das qualidades humanas e dos aspectos saudáveis da vida, como sabedoria, criatividade, coragem, cidadania, entendendo que a promoção do bem-estar não é o mesmo que a redução do mal-estar.
A segunda área de estudos é a neurociência cognitiva – que estuda a atenção, a memória e a linguagem, além da regulação emocional e sua influência nas relações sociais, em questões como raça, gênero e condições sociais, entre outros fatores.
“O Centro tem uma característica inovadora, pelo fato de conciliar esses dois pilares: o da psicologia – com ênfase na psicologia positiva e sua noção de bem-estar, incluindo as condições objetivas de vida, saúde, alimentação, habitação – e o da neurociência”, afirma Otta.
Para Vahan Agopyan, vice-reitor da USP, universidade escolhida como sede do Centro, as parcerias da FAPESP com o setor produtivo demonstram que a Fundação tem conseguido somar seus recursos aos de empresas que buscam na pesquisa resultados de longo prazo.
“Neste caso, ganha a Natura, por aproximar-se da academia, ganha a universidade, por receber mais recursos para pesquisa, e ganha a sociedade, pois os resultados dos estudos do Centro estarão disponíveis com maior rapidez”, observou.
Também para o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, facilitar a interação entre universidades com grupos de pesquisa competitivos internacionalmente e empresas é essencial para o desenvolvimento científico e tecnológico do Estado de São Paulo, missão da Fundação. “A universidade ganha novos desafios para a pesquisa e a empresa ganha pontos de contato estratégicos com a fronteira do conhecimento e com a formação de recursos humanos”, disse.
Gerson Pinto, vice-presidente de Inovação da Natura, destacou que todos os processos e produtos da empresa são permeados pela inovação, que está no centro de seus modelos de negócios. “A Natura tem a promoção do bem-estar como sua razão de ser e pesquisa internamente o tema há mais de dez anos. O Centro permitirá agregar uma dimensão ainda mais profunda desse conhecimento, ao mesmo tempo em que amplia nosso entendimento da população brasileira”.
Segundo ele, além dos resultados econômicos da inovação, há na empresa preocupação com o desenvolvimento social e ambiental. “Desde 2006, a Natura vem pesquisando fatores físicos, psicológicos, ambientais e sociais, e todos eles influenciam o estado de bem-estar das pessoas”, disse.
Pesquisa de longo prazo
Inicialmente, os pesquisadores do centro se articularão em torno de 11 projetos voltados ao desenvolvimento de indicadores de bem-estar, por meio de estudos sobre o reconhecimento e a regulação de emoções, assim como a influência do contexto familiar e da sociedade nas relações humanas. Temas ligados à indústria cosmética – como a maneira com que as fragrâncias e a maquiagem podem alterar o estado de ânimo e a autoestima das pessoas – também serão estudados.
Os projetos serão desenvolvidos ao longo de uma década, mas outras linhas de pesquisa poderão integrar o Centro, ao longo do tempo. De acordo com Otta, trata-se de um importante investimento em uma área do conhecimento que é multidisciplinar, e pode trazer novas perspectivas para o desenvolvimento do bem-estar na sociedade.
“A psicologia moderna aproxima-se da neurociência a partir da psicobiologia, buscando medidas objetivas para questões que antes eram tidas como subjetivas, considerando variações individuais para perceber determinados comportamentos influenciados pela sociedade”, explicou.
Para ela, há grande potencial de aplicação do conhecimento produzido por pesquisas em psicologia positiva nas áreas da educação, da saúde, do trabalho e das organizações, para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade, podendo-se inclusive diminuir o custo econômico e social de doenças, na medida em que as pessoas aprendam a fazer escolhas que promovam o bem-estar e a saúde.
O Centro visa ainda conectar a pesquisa científica com a inovação e transferência de tecnologia, para o que conta com coordenações dedicadas à transferência dos resultados gerados pelas pesquisas e à sua incorporação em ações de educação e difusão, aumentando o impacto da ciência e da tecnologia junto à sociedade.