A médica paraibana Adriana Melo, responsável por confirmar a associação do vírus Zika à microcefalia no Brasil, defendeu que as autoridades de saúde reforcem a orientação aos infectados pelo vírus para que fiquem em casa.
“Muitas pessoas que estão doentes vão trabalhar. Tem que pensar nessa orientação. Em caso de doença, essas pessoas têm que ser estimuladas a ficar em casa. Na Europa, por exemplo, uma pessoa gripada é aconselhada a ficar em casa para não passar o vírus adiante”, disse, durante sessão temática no Senado sobre o mosquito Aedes aegypit . O encontro reuniu parlamentares, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, e especialistas médicos e pesquisadores.
A especialista defendeu a melhoria da qualidade dos equipamentos de ultrassonografia e a capacitação dos profissionais que fazem o exame, que é um eficiente meio de detectar a microcefalia. “Em caso de dúvida, o diagnóstico é feito pela ultrassonografia durante a gestação. É possível fazer, mas tem que melhorar qualidade dos aparelhos e capacitar o pessoal.São coisas simples e que barateiam muito a assistência aos pacientes” afirmou.
Sobre as mães de bebês com microcefalia Adriana Melo lembrou que, os cuidados que elas precisam vão além dos médicos. “Há muitas mães carentes e outras que foram abandonadas pelos maridos. A maioria não tem condições de cuidar de suas crianças.”
Outro especialista, o vice-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Valcler Fernandes, afirmou que o esforço de enfrentamento ao mosquito depende de um esforço conjunto. “A gente só enfrenta isso com ciência, com ação do Poder Público, com ação da sociedade civil e ação individual. Quer dizer, trata-se de uma combinação perfeita, e nós precisamos alcançá-la. Não há outro modo de se fazer isso. No nosso caso, principalmente, ciência, pesquisa e estudos”, disse, acrescentando que a Fiocruz está propondo a realização de um seminário internacional com especialistas do mundo inteiro para discutir a questão.
Ao fazer um balanço das ações e das parceiras que o governo tem tomado para combater o mosquito, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, voltou dizer que, apesar dos cientistas serem cautelosos e de não confirmarem associação direta entre casos de microcefalia e o vírus Zika, para o Ministério da Saúde não há dúvidas desde novembro . “Comunicamos [à Organização Mundial de Saúde (OMS)] a identificação do vírus Zika em dois óbitos e a associação com a microcefalia no dia 29 de novembro. Quer dizer, essa dúvida, que ainda existe para alguns cientistas e para alguns pesquisadores nacionais e internacionais, não existe para o Ministério da Saúde desde o dia 29 de novembro. De lá para cá, todos os dados só vêm confirmando aquilo que já havíamos declarado naquela época”,observou.
Falta de saneamento básico
O presidente do Senado, Renan Calheiros, atribuiu especialmente à falta de saneamento básico os problemas que o Brasil enfrenta no combate ao mosquito.
“A incidência dessa má formação congênita já foi verificada em 16 Estados, demonstrando que não é mais um problema localizado, mas que está se espraiando perigosamente graças ao alcance de voo do Aedes aegypti, mas principalmente à boa vida que estamos dando a ele, com a falta de saneamento básico e de tratamento de esgoto, que persiste em milhares de cidades brasileiras”, disse, garantindo que qualquer providência legislativa necessária para ajudar nas ações que envolvam o mosquito terá prioridade no Senado.
Karine Melo – Repórter da Agência Brasil
Edição: Maria Claudia
26/02/2016