“A nossa sociedade tem rejeição à velhice. Vivemos em uma sociedade que rejeita envelhecer e isso deixa o idoso à margem”. A declaração é do presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, João Bastos Freire Neto. Segundo ele, determinantes culturais, sociais, comportamentais e de acesso à saúde, por exemplo, não permitem um envelhecimento participativo no Brasil e isso faz com que as pessoas não queiram chegar à velhice.
O geriatra explica que é preciso ver a velhice em todas as fases da vida e não só quando a pessoa chega aos 60 anos. “Hoje, a grande violência contra o idoso é ter uma criança fora da escola. Essa criança que não tem acesso à educação tem toda a condição de chegar a ser um idoso vulnerável”, disse.
Bastos disse que com menos acesso à educação maior o risco de se ter uma dependência na velhice. Ele explica que a população idosa que sofre violência é aquela que tem alguma limitação na funcionalidade e que tem uma família despreparada e sem um suporte formal de cuidados. “Quando falamos sobre o que aparece, estamos falando das consequências. Precisamos falar das causas e de uma estrutura melhor para esses cuidadores”, disse.
O Disque 100, serviço de denúncias de violência do governo federal, recebeu 12.454 denúncias de violência contra a pessoa idosa de janeiro a abril de 2016. Os dados da Secretaria de Direitos Humanos, do Ministério da Justiça e Cidadania apontam que entre os denunciados, 54,48% são filhos das vítimas. Entre as violações mais recorrentes aos idosos estão a negligência, a violência psicológica, o abuso financeiro e a violência física.
De 2011 a 2015, houve um crescimento de 292% no número de denúncias de violência contra o idoso ao Disque 100. Em 2011, foram 8.224 denúncias e, em 2015, 32.238 denúncias.
Para Bastos, a atuação dos conselhos municipais e estaduais criaram um sistema de vigilância maior em relação à pessoa idosa, com o aumento da possibilidade de denúncias. Junto a isso, segundo ele, há o aumento da população idosa e a diminuição do tamanho das famílias, deixando mais pessoas vulneráveis à violência.
“Nos últimos 50 anos, o Brasil saiu de uma expectativa de vida de 48 anos para 78 anos. A questão é que ganhamos esses 30 anos de vida, porém em uma condição de dependência. Precisamos aumentar a expectativa de vida saudável que depende dos cuidados à saúde e outros fatores. Para aumentar a expectativa de vida saudável, precisamos discutir como crianças, adolescentes e adultos estão vivendo para ter uma velhice que seja com funcionalidade”, completou o geriatra.
Tipos de violência
O Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa foi instituído pela Organização das Nações Unidas e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa em 2006 e tem como objetivo criar uma mobilização mundial tanto no âmbito social como no político, para que as pessoas não aceitem esse tipo de violência e não se esqueçam da importância do tema.
A negligência é a omissão por familiares ou instituições responsáveis pelos cuidados básicos para o desenvolvimento físico, emocional e social do idoso, tais como privação de medicamentos, descuido com a higiene e saúde, ausência de proteção contra o frio e o calor. O abandono é uma forma extrema de negligência.
A violência psicológica corresponde a qualquer forma de menosprezo, desprezo, preconceito e discriminação, incluindo agressões verbais ou gestuais, com o objetivo de aterrorizar, humilhar, restringir a liberdade ou isolar a pessoa idosa do convívio social. Pode resultar em tristeza, isolamento, solidão, sofrimento mental e depressão.
O abuso financeiro e patrimonial consiste no usufruto impróprio ou ilegal dos bens dos idosos, e no uso não consentido por eles de seus recursos financeiros e patrimoniais, como, por exemplo, obrigar a pessoa a contrair empréstimos.
A violência física inclui abuso e maus tratos físicos, que constituem a forma de violência mais visível e costumam acontecer por meio de empurrões, beliscões, tapas ou por outros meios mais letais, como agressões com cintos, armas brancas (facas e estiletes) e armas de fogo.
Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil
Edição: Maria Claudia
16/06/2016