Elton Alisson | Agência FAPESP – Estão abertas até o dia 31 de março as inscrições para a “São Paulo School of Advanced Science on Climate Change: Scientific basis, adaptation, vulnerability and mitigation”. Organizada pelo Núcleo de Apoio à Pesquisa em Mudanças Climáticas (INnter-disciplinary CLimate INvestigation cEnter) – INCLINE – um núcleo da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) que tem como objetivo promover a interdisciplinaridade das diversas áreas de pesquisa científica relacionadas às mudanças climáticas – e pelo Instituto Interamericano para Pesquisa em Mudanças Globais (IAI) – uma organização intergovernamental constituída por 19 países das Américas, sediada em Montevidéu, no Uruguai –, a Escola será realizada entre os dias 3 e 15 de julho no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
O evento, apoiado pela FAPESP, no âmbito da modalidade (ESPCA), tem como objetivo fornecer a alunos de pós-graduação e pesquisadores em início de carreira conhecimentos avançados sobre a ciência da mudança climática e tópicos relacionados, incluindo aspectos de políticas públicas.
Serão selecionados 100 alunos, entre estudantes de mestrado e doutorado, pós-doutores e pesquisadores em início de carreira, sendo, aproximadamente, 50% brasileiros e 50% estrangeiros, de diferentes disciplinas acadêmicas – tais como Ciências Naturais, Sociais, Humanas e Engenharia –, com trabalhos e pesquisas relacionados aos temas da Escola.
Os participantes serão selecionados com base no mérito de suas informações de candidatura, na relevância do trabalho acadêmico e estudos relacionados aos temas da Escola e de acordo com equilíbrio disciplinar, de gênero e regional.
Os selecionados que venham de outras cidades, estados e países terão suas despesas com passagem aérea, transporte e alimentação pagas pela organização. As inscrições devem ser feitas pelo site .
“A Escola permitirá que os participantes debatam com renomados cientistas temas importantes do último relatório do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da Organização das Nações Unidas (ONU)] – o AR5 – e tenham uma visão mais global dos resultados dessa publicação”, disse Tércio Ambrizzi, professor do IAG-USP e coordenador do evento, à Agência FAPESP.
De acordo com o pesquisador, os relatórios do IPCC são divididos em três partes resultantes das contribuições de três grupos de trabalhos diferentes: a primeira relacionada às bases científicas, a segunda parte sobre impactos, adaptação e vulnerabilidade e a terceira sobre mitigação das mudanças climáticas.
Apesar de os três temas estarem interligados, estas diferentes partes do relatório acabam sendo lidas por públicos distintos. Os pesquisadores da área de Ciências Naturais, por exemplo, acabam detendo-se na parte sobre as bases científicas. Já os cientistas sociais e de outras áreas relacionadas à área de Humanas, por exemplo, acabam restringindo seus focos à segunda parte, sobre impactos, adaptação e vulnerabilidade, e à terceira, sobre mitigação das mudanças climáticas, exemplificou.
“Em razão dessa leitura compartimentada do relatório do IPCC, nós pensamos que seria extremamente interessante trazer especialistas nas três áreas abrangidas pela publicação para fornecer aos participantes da Escola um resumo e discutir as principais conclusões de uma forma mais global”, explicou Ambrizzi.
Atualmente, o IPCC está em seu sexto ciclo de avaliação. Durante este ciclo, o Painel produzirá três relatórios especiais, um relatório metodológico sobre os inventários nacionais de gases de efeito estufa e o sexto relatório de avaliação (AR6), que deverão ser finalizados até 2021.
Um dos relatórios especiais, denominado SR1.5, será sobre os impactos do aquecimento global de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, que deverá ser concluído em setembro de 2018.
O segundo relatório especial, batizado de SR2, será sobre as alterações climáticas, a desertificação, a degradação das terras, a gestão sustentável das terras, a segurança alimentar e os fluxos de gases de efeito de estufa nos ecossistemas terrestres e tem previsão de conclusão em setembro de 2019.
E o terceiro relatório especial – o SROCC – que será sobre as alterações climáticas e os oceanos e a criosfera, também deverá ser concluído em setembro de 2019.
Acordo de Paris
Durante a Escola será discutido o tema do SR1.5, sobre os impactos de um aumento de 1,5 °C da temperatura global acima dos níveis pré-industriais, que os países signatários do Acordo de Paris, estabelecido em dezembro de 2015 durante a 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), realizada na capital francesa, pretendem evitar.
No Acordo de Paris ficou estabelecido que todos os países signatários deveriam cortar suas emissões de gases de efeito estufa com o objetivo de conter o aumento da temperatura do planeta em até 2 ºC até 2100.
Cientistas integrantes do IPCC, contudo, indicaram que o aumento da temperatura mundial deve ser limitado a 1,5 °C, uma vez que, com uma elevação da temperatura do planeta em 2 ºC, diversos países no Pacífico, por exemplo, situados muito próximos da costa, poderiam ser prejudicados em razão de um aumento do nível do mar causado pelo incremento da temperatura global.
“Reservamos um dia e meio do final da Escola para promover uma discussão final sobre como o aumento de 1,5 °C na temperatura global poderia efetivamente afetar o sistema atmosférico e oceânico como um todo”, disse Ambrizzi.
“Essa discussão deverá ser liderada por dois especialistas, sendo um deles o atual diretor executivo do IAI, Holm Tiessen”, afirmou.
A Escola deverá ter a participação de pesquisadores brasileiros, das Américas do Sul e Central, além da Europa e dos Estados Unidos como palestrantes – alguns deles membros do IPCC.
A programação será composta por um curso com duração de duas semanas que incluirá aulas teóricas, trabalhos em grupo, sessão de pôsteres, discussões científicas e visitas a duas instituições no Estado de São Paulo que conduzem pesquisas sobre mudanças climáticas: o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC).
“Esperamos que a Escola promova uma interação de conhecimentos entre os participantes e que eles possam efetivamente não só refletir, mas também contribuir com ideias e sugestões que, eventualmente, possam ser até mesmo levadas ao IPCC”, disse Ambrizzi.
Mais informações sobre a Escola podem ser obtidas no site .