Claudia Izique | Agência FAPESP – Um gestor financeiro inteligente, um sistema para inoculação de fermentadores voltado para o mercado de cervejarias artesanais e um processo a ser utilizado na síntese de bioprodutos são três dos inovadores selecionados pela FAPESP para apoio no âmbito do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
A relação das 39 empresas foi anunciada em cerimônia realizada no dia 12 de setembro, na sede da Fundação. “Não se pode apenas exortar a inovação: precisamos de empresas que se proponham a resolver problemas”, afirmou o presidente da FAPESP, José Goldemberg.
Todas as empresas selecionadas têm até 250 empregados. As que solicitaram apoio para testar a viabilidade técnica de uma ideia contarão com até R$ 200 mil por um período de seis meses. Aquelas, cujos produtos ou processos inovadores já estiverem em estágio de desenvolvimento terão, para tanto, até R$ 1 milhão por um período máximo de 24 meses. Nos dois casos, os recursos são não-reembolsáveis.
Os projetos aprovados cobrem diversas áreas tecnológicas. A 4Tree, por exemplo, startup criada em 2015, instalada num espaço de coworking em Piracicaba, pretende, como o apoio do PIPE, desenvolver uma plataforma computacional para gestão da produtividade florestal; a Gomez e Gomez, em São Paulo, quer desenvolver tecnologia para detecção antecipada de surtos epiléticos.
Os empreendedores interessados em submeter propostas ao PIPE não precisam ter empresas formalmente constituídas, desde que isso ocorra até a data da assinatura do termo de outorga. É o caso de nove dos 39 projetos aprovados. , engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, por exemplo, está constituindo uma empresa para levar em frente projeto de desenvolvimento de formulações para inoculante inovador para cana-de-açúcar.
20 anos de apoio à inovação
O PIPE já beneficiou 1.885 projetos de 1.182 empresas em todo Estado de São Paulo, desde a constituição do Programa, em 1997. Em 2017, até 12 de setembro já foram contratados 194 projetos – sem contar os 39 anunciados –, número muito próximo do recorde alcançado pelo programa em 2016, quando 228 propostas foram contratadas – quase um por dia útil no ano.
“O PIPE é um dos programas de maior impacto para a FAPESP”, disse o presidente do Conselho Técnico-Administrativo da Fundação, Carlos Américo Pacheco. E dirigindo-se à plateia formada, em sua maioria, por jovens empreendedores, recomendou: “Façam o melhor uso possível desse apoio que inclui, além dos recursos públicos, treinamento e mentoria”.
Um balanço do programa, realizado no 10º aniversário do PIPE, revelou resultados positivos. O diretor científico da Fundação, Carlos Henrique de Brito Cruz, sublinhou que, para cada R$ 1 investido pela FAPESP e R$ 0,8, em média, aportados pelas empresas, o retorno é de R$ 11. “O fator de multiplicação do dinheiro público é bastante alto.”
O estímulo do PIPE também elevou em cerca de 40% o total de recursos humanos contratados pelas empresas apoiadas, percentual que atinge o patamar de 60% quando se contabilizam os empregados com nível superior e que superam essa marca no caso de pós-graduados.
Entre as empresas avaliadas, 40% geraram resultados a partir dos projetos apoiados pelo PIPE, percentual semelhante ao alcançado pelo norte-americano SBIR (Small Business Innovation Research), programa similar mantido pela National Science Foundation (NSF) e demais agências federais.
Os dois programas se diferenciam quando se avalia a participação do venture capital no desenvolvimento das empresas – 12% no Brasil contra 25% nos Estados Unidos, destacou Brito Cruz. “A FAPESP tem feito esforços para expor as empresas apoiadas pelo PIPE aos investidores”, disse aos empreendedores presentes à cerimônia, da qual também participaram Eduardo Moacyr Krieger, vice-presidente do Conselho Superior da FAPESP, e Augusto Luis Rodrigues, presidente do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta.
”Olhar para o negócio e para o mercado”
Os bons resultados do programa podem também ser ilustrados com cases de sucesso como o da empresa , instalada em São Carlos. Criada em 2014, a empresa contou com o apoio do PIPE para o desenvolvimento de três projetos que resultaram numa tecnologia inovadora de medição não invasiva da pressão intracraniana, já aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Portátil, o equipamento da Braincare pode ser utilizado durante o transporte de pacientes e atendimentos de emergência, além do uso em clínicas, ambulatórios, unidades de terapia intensiva e centros cirúrgicos.
“Em 2017, definimos um posicionamento global: oferecer soluções de monitoramento não invasivo da pressão intracraniana de forma tão simples quanto a utilizada para medir a pressão arterial, utilizando tecnologia wireless”, resumiu Arnaldo Betta, diretor executivo da empresa, à plateia de empreendedores.
A empresa submeteu e teve aprovado um novo projeto PIPE para o desenvolvimento de um sistema sem fio para o monitoramento de pacientes e calibração do sensor. O próximo passo é ingressar no mercado norte-americano, o que exigirá o desenvolvimento de pesquisa local para validação do método.
“A Braincare não existiria sem o seu fundador, Sérgio Mascarenhas, e sem a FAPESP”, sublinhou Betta. A Fundação, ele completou, além do suporte financeiro, ajudou a empresa a aprender “olhar para o negócio e para o mercado” (Leia mais sobre a Braincare em ).