Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Estão abertas, até 3 de maio, as inscrições para o programa Grand Challenges Explorations (GCE), da Fundação Bill e Melinda Gates. Pesquisadores interessados em participar do programa devem encaminhar propostas para concorrer a subvenção inicial de US$ 100 mil. Se o projeto for bem-sucedido, é possível obter um financiamento adicional de até US$ 1 milhão.
Nesta rodada do GCE, interessados podem submeter propostas para desafios como tecnologias para mudança comportamental em saúde materna, neonatal e infantil; novas abordagens para imunizações de rotina em ambientes com poucos recursos; inovações para sistemas integrados de diagnósticos; sistemas de saúde mais fortalecidos com cadeias de suprimentos mais efetivas.
Qualquer interessado pode enviar projetos, bastando descrever a ideia em inglês em um documento de duas páginas. Não é necessário anexar currículo, referências nem resultados prévios. A seleção é baseada exclusivamente na qualidade da proposta, que deve ser inovadora, e no potencial para resolver grandes desafios globais.
No Brasil, a Fundação Bill e Melinda Gates tem parceria com 20 Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs), o que garante um aporte adicional de US$ 50 mil a US$ 100 mil a pesquisadores desses 19 estados e do Distrito Federal que tiverem as ideias selecionadas pelo programa.
“É um programa com grande visibilidade internacional e importância para a saúde e o desenvolvimento global. A Fundação Bill Gates recebe e analisa as propostas de projetos e, caso haja dentre as aprovadas propostas coordenadas por pesquisadores dos estados brasileiros participantes do acordo de cooperação científica com a Fundação Gates, a FAP é informada para que possa prosseguir com o financiamento adicional, seguindo suas próprias normas e disponibilidade financeira”, disse Simone Godoi, gerente de área científica – Ciências da Saúde, da Diretoria Científica da FAPESP.
Mais de 2 mil projetos em 87 países já foram financiados, 36 deles no Brasil. Um dos projetos visa testar dois tipos de autópsia minimamente invasiva por ultrassom e tomografia.
O projeto, liderado por Paulo Saldiva, professor titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da universidade, está testando e comparando as duas técnicas com a necropsia padrão ouro – que é o procedimento invasivo tradicional realizado no Instituto Médico Legal – e com o questionário conhecido como autópsia verbal.
Caso se comprove a eficácia e viabilidade das autópsias feitas por ultrassom e por tomografia será possível aumentar o conhecimento sobre diversas doenças.
“Há muitas informações na morte. Saber o que causou o óbito é essencial para identificar antecipadamente novas epidemias, ter maior entendimento sobre a biologia de doenças crônicas, do sistema nervoso, Alzheimer, esquizofrenia, obesidade e também avaliar a qualidade da assistência hospitalar pública e privada”, disse Saldiva.
Atualmente, cerca de 70% do total de mortes no mundo não têm atribuição de uma causa objetiva. Elas acabam recebendo classificações genéricas como parada cardíaca, falência múltipla dos órgãos, que geralmente são condições fisiológicas e não causa.
No Brasil, não é diferente e a obrigatoriedade de autópsia só vale para casos de homicídio e acidentes. Nos demais casos, a decisão sobre a autópsia fica a cargo da família, que geralmente não faz o pedido por considerar desrespeitoso, demorado e mais um sofrimento para os parentes.
As autópsias em teste têm duração de 10 minutos, tempo muito menor que os quase três dias de uma autópsia padrão. Fora isso, o ultrassom portátil possibilita que a investigação seja feita fora dos hospitais, em locais remotos e em situações de epidemias e surtos.
“Com a tomografia, qualquer sala de UTI se torna um local adequado para uma autópsia minimamente invasiva. O ultrassom amplia essa possibilidade para fora do hospital. Com a ajuda de um smartphone acoplado aos aparelhos, pode-se transmitir as imagens aos centros de referência, que contribuirão com as análises”, disse Saldiva.
Agora, o projeto está em fase de comparar equipamentos e desenvolver metodologia. “Já fizemos 500 autópsias com tomografia. Estamos estudando muitas doenças do pensamento, como ansiedade e depressão”, disse.
Saldiva destaca que o Grand Challenges é bastante competitivo e ajuda a colocar a pesquisa científica do Brasil em um contexto global.
“A sala de autópsia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo é o maior serviço de autópsia médica do mundo, com cerca de 15 mil autópsias por ano. Por conta disso, é fundamental desenvolver novos e avançados métodos de investigação de doenças em grande volume”, disse.
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