Agência FAPESP – Os resultados de uma pesquisa conduzida no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC/USP) em São Carlos estão sendo usados para desenvolver um modelo matemático que ajude a compreender como funciona o cérebro de portadores de um distúrbio que leva o nome de Tinnitus, mais conhecido como zumbido de ouvido.
De acordo com dados da Associação de Pesquisa Interdisciplinar e Divulgação do Zumbido (Apidiz), o distúrbio acomete cerca de 20% da população no Brasil.
Com base em dados de cerca de 3 mil pacientes, o projeto está sendo desenvolvido pelo iraniano Iman Ghodratitoostani, que realiza seu doutorado no Brasil sob orientação de , pesquisador do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão () apoiados pela FAPESP. O estudo integra o acordo de cooperação entre a FAPESP e o Conselho de Ciências Cognitivas e Tecnológicas do Irã.
Intitulada “Validação de modelo neurofuncional do zumbido via estimulação transcraniana por corrente contínua de alta definição e avaliação por ressonância magnética funcional com eletroencefalograma de repouso”, a pesquisa recolhe dados em duas frentes: entrevistas com pacientes e informações registradas em ressonância magnética e eletroencefalograma.
As informações coletadas são analisadas por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores: USP São Carlos, Instituto de Estudos de Ciência Cognitiva do Irã, Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, Universidade Federal do ABC e a World Hearing Organization, empresa norte-americana que produz aparelhos auditivos.
A análise clínica dos pacientes envolvidos na pesquisa é feita pelo Instituto Ganz Sanchez, em São Paulo, referência no diagnóstico e tratamento do zumbido no ouvido. Além disso, os pacientes que participam da pesquisa também passam por avaliações e medições feitas com os equipamentos do CeMEAI, financiados pela FAPESP.
“ Estamos trabalhando na validação do modelo que é proposto com base em atividades do cérebro e da rede neural, bem como nas informações do cérebro obtidas a partir da ressonância magnética funcional e de encefalogramas elétricos”, explicou Iman à Assessoria de Imprensa do ICMC. A ideia é monitorar informação do cérebro antes, durante e depois de qualquer tipo de tratamento, a fim de descobrir o que aconteceria no cérebro como consequência de uma intervenção.
“A pesquisa envolveu profissionais de várias áreas e instituições. Desde o médico ao cientista da computação, matemático, estatístico e outros especialistas, buscamos todos um melhor entendimento de como funciona a doença para poder fazer o melhor tratamento e obter as melhores soluções”, descreve Delbem.
De acordo com Tanit Ganz Sanchez, pesquisadora da FMUSP e supervisora da parte clínica da pesquisa no Instituto, o estudo tem contribuído com inovações, como combinações de fatores de diferentes tratamentos.
“Esta pesquisa é extremamente rígida, com padrões poucos flexíveis. Normalmente, os projetos de tratamento mais comuns são os ensaios clínicos randomizados, nos quais se testa uma coisa de cada vez. Resolvemos ousadamente fazer o contrário: ir atrás de pessoas que já se curaram e ver o que elas tinham para contar aos clínicos e pesquisadores. Para surpresa, a cura, pelo menos as que pudemos testemunhar, são resultado de combinações de fatores de tratamentos juntos”, diz. Para ela, a parte clínica e a parte cientifica têm que interagir melhor, para que se chegue, de fato, à cura do zumbido.
A pesquisa deve estar finalizada em dois anos, depois de concluídos os ajustes em equipamentos e dos primeiros testes com pacientes. “A originalidade desse trabalho está em juntar as análises clínicas e as medições de sinais cerebrais para que possamos realizar avaliações mais elaboradas. É um começo promissor, pois esse modelo permitirá mapear e medir o funcionamento do cérebro no que diz respeito ao zumbido, possibilitando pensar em novos tratamentos no futuro”, avalia Delbem.