André Julião | Agência FAPESP – Nove meses depois de que o Brasil é o país com o maior número de artigos científicos em acesso aberto no mundo, agências de fomento de 11 países europeus e a Comissão Europeia anunciaram que, até 2020, toda pesquisa financiada com dinheiro público deve ser publicada em periódicos de acesso aberto, em que não é preciso pagar para ler os artigos.
A medida parece ser um caminho inevitável num momento em que a publicação dos resultados passa a ser cada vez mais aberta e ganham corpo estruturas e políticas para tornar mesmo dados não associados a publicações disponíveis para outros pesquisadores.
“Os objetivos tanto na Holanda como na Europa são bem ambiciosos. Vemos a chamada open science como o futuro. Por isso, estamos propondo políticas e construindo infraestruturas para fazer do compartilhamento de dados uma realidade”, disse Ingrid Dillo, diretora do Data Archiving and Networked Services (DANS), na Holanda, que há 10 anos apoia pesquisadores holandeses na disponibilização e preservação a longo prazo de seus dados. O instituto é financiado pela Academia de Artes e Ciências da Holanda (KNAW) e pelo principal órgão de fomento à pesquisa do país (NWO).
Dillo foi uma das convidadas do evento , ocorrido na sede da FAPESP em 20 de setembro.
O evento contou ainda com representantes das sete universidades públicas paulistas, que apresentaram suas iniciativas em compartilhamento e gestão de dados. Essas universidades fazem parte de um grupo de trabalho coordenado na FAPESP para criação de uma rede de repositórios de dados abertos de pesquisa. A FAPESP reconhece a importância da gestão adequada dos dados de pesquisa como parte essencial das .
Também como parte dessas iniciativas, houve uma apresentação das ações levadas adiante na SciELO sobre open access, com referência a publicações, uma parte integrante da open science.
“Estamos discutindo as novas práticas e políticas da FAPESP que estão sendo seguidas e implementadas na área de ciência aberta e dados abertos”, disse , professora do Instituto de Computação da Unicamp e membro da Coordenação do , organizadora do evento.
“Na Holanda, isso é algo consolidado, são mais de 10 anos de trabalho para a criação de um sistema de dados abertos. No Canadá, é uma iniciativa mais recente, mas já com grandes repositórios que podem nos ajudar no Brasil”, disse Medeiros à Agência FAPESP.
“O que estamos tentando fazer no Canadá é criar parcerias entre vários setores, como bibliotecas, pesquisadores e provedores de infraestrutura. Essas parcerias apenas reafirmam os esforços que cada grupo pode trazer para permitir criar melhores serviços para os nossos pesquisadores. Esse pode ser um modelo para as agências de fomento brasileiras”, disse Lee Wilson, gerente de sistemas da Portage Network, iniciativa criada em 2015 pela Canadian Association of Research Libraries, outro dos palestrantes do evento.
Open data: open science
“A noção de ter os dados abertos permite que uma gama de pesquisadores possa colaborar tanto do ponto de vista da pesquisa como compartilhando conhecimento, reutilizando resultados, dados e métodos de outros. Isso ajuda a criar tecnologia, ciência, conhecimento, riqueza econômica e social”, disse Medeiros.
Um exemplo de uso de dados compartilhados está em estudos na área de genômica, como os conduzidos por , pesquisador do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da Unicamp e membro do comitê gestor da Brazilian Initiative on Precision Medicine (BIPMed).
Carvalho é um dos responsáveis pela construção de uma nova ferramenta que poderá facilitar a identificação de variantes genéticas causadoras de doenças (leia mais em ).
“Os custos de produção de dados na área de genômica são relativamente elevados e a disponibilidade de indivíduos que doem amostras de DNA e RNA são bastante restritas. Portanto, a estratégia de open science e open data tem sido essencial para as tarefas que executamos”, disse Carvalho.
Ele explica que pode utilizar, por exemplo, um conjunto de dados que tenham sido produzidos por outros grupos de pesquisa, de forma a aumentar o poder estatístico das inferências que pode fazer em suas análises. “Dois grupos podem analisar juntos os dados gerados por cada um separadamente”, disse Carvalho, que também é da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp e representou o pró-reitor no evento.
Transparência
Além do compartilhamento de resultados e dados, que podem ser reaproveitados em outras pesquisas, outras vantagens da open science é a transparência e a reprodutibilidade. Não por acaso a Holanda tem uma iniciativa tão forte nesse campo.
Em 2011, ficaram conhecidos casos de fraude em pesquisas naquele país, que acarretaram em demissões e uma grave crise de reputação para as universidades que empregavam os pesquisadores que forjaram resultados.
“Os casos de fraude na Holanda acabaram sendo um tipo de bênção [para que tivéssemos apoio para fazer com que isso não ocorra novamente]. Tivemos um psicólogo e pessoas das ciências médicas que forjaram trabalhos. Eles produziram artigos que chamaram muita atenção, mas no final soube-se que eles não tinham feito pesquisa de verdade e os dados não existiam”, disse Dillo.
Segundo a diretora do Data Archiving and Networked Services, esse foi um grande golpe para as universidades holandesas.
“O resultado bom que veio disso é que hoje os dirigentes das universidades estão muito mais atentos para o fato de que os dados são muito importantes. Depois desses casos, eles fizeram muitos esforços para definir políticas de dados e também criar infraestruturas computacionais onde eles possam ser armazenados de forma adequada”, disse Dillo.
As apresentações do evento Open Science / Open Data: Challenges and Best Practices in Scientific Data Management estão disponíveis em: .