Peter Moon | Agência FAPESP – Por décadas, os programas de melhoramento de gado bovino se concentraram em promover um crescimento rápido dos novilhos. Agora, busca-se o melhoramento de outras características, como mais maciez na carne ou maior área do músculo no olho da costela.
Investigando o genoma da raça zebuína Gir, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) identificaram 35 genes associados a características como reprodução, composição do leite e crescimento. Trata-se de um passo fundamental para desenvolver novas linhagens com características desejadas por produtores e consumidores.
Resultados do estudo foram publicados na revista pelo grupo liderado por Josineudson Augusto II de Vasconcelos Silva, professor na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu (SP). A pesquisa contou com . Participam do trabalho pesquisadores da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, e dos Institutos de Zootecnia de Nova Odessa e de Sertãozinho.
A raça zebuína Gir é originária da Índia e foi introduzida com sucesso em regiões tropicais. É uma das principais raças de gado criadas nos países tropicais da América do Sul, em especial no Brasil. Mas as diversas populações de Gir por aqui guardam diferenças marcantes. A forte seleção artificial da raça levada a cabo nas últimas décadas levou ao aumento da diferenciação genética entre os animais em diversos países.
No Brasil, atualmente a raça Gir é criada principalmente como gado leiteiro, mas no passado também despontava como opção dos criadores no gado de corte, que é hoje dominado pela raça Nelore.
Para conseguir localizar os genes associados à produção de carne e leite em Gir, os pesquisadores analisaram os genótipos de animais de duas populações distintas. Uma delas foi um rebanho criado entre 1976 e 2003 no Instituto de Zootecnia de Sertãozinho.
Em 1976, iniciou-se em Sertãozinho a criação de um rebanho Gir cujos animais foram sendo selecionados para desenvolver características ligadas à produção de carne, como aumento rápido de tamanho dos novilhos. A consequência é que os novilhos ficaram cada vez maiores. Mas em 2003, devido à reorientação dos produtores em relação ao Gir, de gado de corte para gado leiteiro, aquele rebanho de Sertãozinho foi vendido.
Ao mesmo tempo, iniciou-se o Programa Nacional de Melhoramento Genético do Gir Leiteiro (PNMGL), selecionado para características ligadas à produção de leite. Com o passar dos anos, as vacas foram desenvolvendo úberes cada vez maiores e produzindo cada vez mais leite.
Para o trabalho de genotipagem, foram utilizadas amostras de pelos retiradas, em 2003, de 173 touros, vacas e animais jovens do rebanho selecionado para corte. Também foram usadas amostras de pelo de 273 animais do rebanho do PNMGL, criados em cinco fazendas localizadas nos estados de Minas Gerais e São Paulo.
Também foram levantados registros específicos de cada animal, como peso ao nascer, peso antes da desmama, peso na pós-desmama e também no momento do abate.
“Selecionamos um grupo de Gir para corte e outro para leite. A diferença na morfologia dos animais era muito grande. Enquanto os animais selecionados para corte tinham maior musculatura e eram mais fortes, as vacas selecionadas para leite possuíam úberes muito pronunciados”, disse Vasconcelos Silva.
“Os resultados obtidos são claros e consistentes com a história de ambas as populações, que estavam sob diferentes programas de melhoramento; portanto, os animais foram submetidos à segregação intencional de genes dentro de cada população, promovendo o completo isolamento e variação genética entre eles”, disse.
Confrontando os genomas de todos os 446 animais, ou seja, os genomas dos 173 animais selecionados para corte com o genoma dos 273 animais selecionados para leite, foram detectadas as regiões no genoma bovino, em Gir, onde se localizam os genes ligados à produção de carne e aqueles ligados à produção de leite.
“Identificamos 282 genes nas regiões eleitas como assinaturas de seleção nos rebanhos de corte e leite da raça Gir, dentre os quais 35 genes estão associados à reprodução, composição do leite, crescimento, carne e carcaça, saúde ou características de conformação corporal”, disse Vasconcelos Silva.
Rebanhos maiores
A investigação de genes mostrou que características associadas à fertilidade, produção de leite, qualidade da carne e crescimento estão envolvidas no processo de diferenciação das duas populações, a selecionada para corte e a selecionada para leite. Alguns desses 35 genes já eram conhecidos dos cientistas. Outros são descobertas novas para a ciência.
Os próximos passos da pesquisa envolvem o trabalho com rebanhos maiores, realizando genotipagem de ao menos 2 mil animais. O objetivo será entender melhor como cada um desses genes antes desconhecidos se expressa e de que forma estão relacionados com as características investigadas.
“Talvez possamos descobrir que existem genes que se expressam mais na raça Gir, e menos em Nelore, por exemplo”, disse Vasconcelos Silva.
Outra possibilidade será comparar os genes de Gir com os genes de uma raça europeia, como por exemplo Angus, que é privilegiada nas churrascarias.
O artigo Assessing genetic architecture and signatures of selection of dual purpose Gir cattle populations using genomic information, de Amanda Marchi Maiorano, Daniela Lino Lourenco, Shogo Tsuruta, Alejandra Maria Toro Ospina, Nedenia Bonvino Stafuzza, Yutaka Masuda, Anibal Eugenio Vercesi Filho, Joslaine Noely dos Santos Goncalves Cyrillo, Rogério Abdallah Curi e Josineudson Augusto II de Vasconcelos Silva, pode ser lido em: .
http://agencia.fapesp.br/genes-que-podem-levar-a-melhoria-no-gado-bovino-sao-identificados-/29107/