André Julião | Agência FAPESP – Investimentos públicos em pesquisa básica e garantias para a indústria desenvolver medicamentos e lidar com os riscos e lucros que isso acarreta. Essa é parte da política de financiamento à pesquisa em saúde do governo dos Estados Unidos, apresentada pelo secretário de Saúde e Serviços Humanos, Alex Azar, em visita à FAPESP no dia 2 de outubro.
“Pela natureza da nossa organização, entendemos que muitos setores diferentes devem se unir para tornar possível a inovação. Mas também acreditamos na importância de o governo entender o papel particular que deve ter e deixar muito do trabalho para o setor privado”, disse Azar em palestra para pesquisadores e outros convidados.
Antes de assumir o comando da saúde dos Estados Unidos, Azar foi conselheiro do mesmo departamento entre 2001 e 2005 e subsecretário até 2007, na administração George W. Bush.
Economista e advogado, voltou ao setor privado como vice-presidente sênior de assuntos corporativos e comunicações da farmacêutica Eli Lilly. De 2012 a 2017, foi presidente da maior subsidiária da companhia, a dos Estados Unidos.
Azar ressaltou a importância do investimento público na área. Sua pasta tem o maior orçamento do governo norte-americano, atualmente em US$ 1 trilhão por ano, com previsão de US$ 1,1 trilhão no ano que vem.
“Pode ser tentador, quando se trata de apoio governamental para pesquisa, insistir que investimentos públicos rendam um certo retorno para o governo, ou que os resultados devem estar disponíveis no mercado a um certo preço. Mas essas políticas vêm com um risco real”, disse.
Segundo o secretário, por meio de instituições como FAPESP e National Institutes of Health (NIH), órgão submetido à sua administração, “governos têm um importante papel em plantar as sementes da inovação em biomedicina”.
No entanto, “não se deve ter tanto apetite de forma a comer as sementes”, o que, segundo ele, seria restringir a forma que o financiamento governamental apoia a inovação. Para o secretário, isso pode ameaçar “o crescimento dos frutos que precisamos”. É por essa razão que o país tem leis para proteger os direitos das empresas inovadoras de obterem lucro por seu trabalho.
“Nos Estados Unidos, o setor privado investe duas vezes mais que o NIH em pesquisa e desenvolvimento farmacêutico. Para chegar a essas inovações e convertê-las em produtos de verdade, existe um processo muito caro de testes e desenvolvimento de drogas, incluindo muitos fracassos, a um alto risco. Então, financiamos pesquisa básica e eles [membros do setor privado] trazem capital e fazem os investimentos de risco para trazerem produtos para o mercado”, disse Azar à Agência FAPESP.
Parcerias
O secretário lembrou ainda que o Brasil tem um dos maiores portfólios de colaborações com o NIH no hemisfério ocidental, e que os resultados das novas oportunidades de pesquisa entre os dois países já podem ser vistos.
Essa colaboração inclusive mostrou grandes benefícios durante o surto de zika em crianças no Brasil. O estudo foi desenhado de forma a entender os efeitos da infecção pelo vírus em mulheres grávidas e nos fetos.
“O NIH e a Fiocruz puderam lançar rapidamente esse estudo logo após o surto de zika, em parte por conta da nossa longa história de colaboração científica e das novas ferramentas tecnológicas que os pesquisadores têm à disposição”, disse Azar.
Além disso, ele ressaltou a parceria de mais de uma década no desenvolvimento de vacinas como a da influenza pandêmica, com o Instituto Butantan, que ele visitou na mesma tarde.
O secretário citou ainda o desenvolvimento de uma candidata a vacina produzida em cultura de células e o fato de o Butantan estar completando a fase 3 dos testes da vacina tetravalente contra a dengue, outra colaboração com o NIH.
“Agora, como resultado da transferência de tecnologia do NIH, a atual fase de testes no Brasil e a conclusão da nova fábrica de vacinas, o Instituto Butantan está bem posicionado para produzir a vacina e torná-la disponível para iniciativas de imunização em larga escala no Brasil”, disse.