A esporotricose é uma infecção cutânea emergente, causada pelo S. brasilliensis, nova espécie de fungo pertencente ao gênero Sporothrix spp., porém mais virulento e mais patogênico que as demais. Bem adaptado a um reservatório animal, o gato, levou a doença a tornar-se importante no território nacional e também em outros países da América Latina, como Argentina, Paraguai e Bolívia. No Brasil, somente cinco unidades federadas não relatam a detecção do agente em seu território (Acre, Roraima, Amapá, Ceará e Mato Grosso do Sul). Em alguns estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia a doença tomou dimensões de surto/epidemia e passou a ser de notificação compulsória para humanos, apesar de ainda não ser de notificação no país. Para os animais ainda não é compulsória a notificação.
Os casos suspeitos, humanos ou animais, que muitas vezes estão associados, devem ser comunicados ao serviço público de saúde do município. Como a doença não é de notificação compulsória no país, não há fluxos disponíveis para sua vigilância no nível nacional. Cada estado tem proposto fluxos e protocolos próprios. A notificação possibilitará a investigação epidemiológica, a implantação de medidas preventivas e de controle e o real conhecimento da dimensão da doença nos territórios.
Os humanos suspeitos devem procurar a unidade de saúde mais próxima e relatar sobre o contato com animal suspeito, se houver. Para os animais suspeitos é fundamental orientar quanto ao isolamento, realização do diagnóstico e, se for o caso, iniciar o tratamento imediato do animal.
É fundamental tomar as medidas preventivas ao manipular animais suspeitos. O uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), máscara, óculos, capote, luvas, e touca protege o profissional de possíveis infecções, que também podem ocorrer por meio de contato com secreções de animais doentes.
Diagnóstico
O diagnóstico no gato pode ser realizado por meio de citologia, uma vez que o gato alberga grande quantidade de fungo nas lesões, o que facilita a visualização do agente em lâminas coradas e examinadas ao microscópio ótico. A cultura é considerada padrão ouro e é recomendada em caso de citologia negativa e também para outras espécies animais. O tratamento animal é possível e pode ser efetivo. É importante que seja iniciado o mais precocemente possível, considerando o caráter invasivo deste agente e a possibilidade de causar doença sistêmica, principalmente em gatos. As medidas preventivas são fundamentais, pois o animal tratado pode se re-infectar.
É possível realizar o controle da doença com prevenção e o manejo correto de populações animais, em especial os gatos, as principais vítimas, sendo a espécie mais vulnerável e a principal fonte de infecção da esporotricose zoonótica para outros animais e humanos. Por este motivo, o isolamento e tratamento adequado dos animais suspeitos são imprescindíveis e é fundamental a participação da classe Médica Veterinária.
Cuidados
Todos os profissionais de saúde (médicos, médicos-veterinários, zootecnistas, enfermeiros, agentes de saúde entre outros); tratadores de animais e população em geral devem ser informados sobre os riscos relacionados à ocorrência da doença, ao diagnóstico, tratamento e medidas preventivas, porém de forma orientada para se evitar o pânico, aumento de abandono e maus-tratos aos animais. Cuidados adicionais devem ser tomados pelos profissionais e tratadores de animais quanto ao uso de EPI adequado.
Os cadáveres de animais suspeitos que vierem a óbito devem ser encaminhados para destino adequado. Recomenda-se a incineração.
Os tutores devem ser orientados a manter a saúde de seus pets em dia, com vacinação espécie-específica e vermifugação. A castração pode ser uma medida importante. O coito em gatos propicia a transmissão da esporotricose devido às mordidas e garras infectadas, além das brigas por disputa de fêmeas. Dentre todas as medidas, manter o animal “in door” é fundamental. Gatos que têm livre acesso à rua têm até três vezes mais chance de adoecer por esporotricose.
Além da restrição de acesso à rua de todos os animais e do isolamento dos animais suspeitos durante todo o tratamento, a população em geral deve evitar a alimentação de forma descontrolada de animais em espaços públicos. Esta ação atrai outros animais para a área, inclusive sinantrópicos; propicia a transmissão de doenças; estimula a reprodução levando ao aumento de animais em situação de abandono. Também é recomendada cautela e cuidado com animais desconhecidos, mesmo aparentemente sadios e amigáveis. Eles podem estar infectados e transmitir a doença acidentalmente.
Controle
O controle desta doença emergente requer ações de diferentes setores além da saúde, como o meio ambiente, responsável pela manutenção da fauna; o setor de educação e o terceiro setor, fundamentais para que possamos idealizar e propor ações junto à comunidade e tutores sobre o manejo de populações animais e controle de doenças; Ministério Público e setores de fiscalização para a definição e cumprimento de políticas públicas. Os conselhos de classe também são fundamentais na inserção de agendas que priorizem conhecimentos e participação dos profissionais de saúde, bem como na fiscalização das atividades relacionadas ao exercício profissional dentro de padrões técnicos e éticos estabelecidos e na atuação das respectivas comissões. Como exemplos a Medicina Veterinária tem priorizado no Sistema CFMV/CRMV as Comissões Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV/CFMV) e de Bem-estar Animal (COBEA/CFMV). Em Minas Gerais, área endêmica, foi criada, em 2018, a Comissão de Enfrentamento da Esporotricose.
Fontes: José Renato de Rezende Costa e Nélio Batista de Morais, integrante e presidente da CNSPV/CFMV, respectivamente.
Assessoria de Comunicação do CFMV